Superego

Neste artigo, trataremos do conceito de superego, um dos mais importantes para a explicação da teoria do funcionamento da mente, que foi criada pelo médico austríaco Sigmund Freud, o pai da psicanálise, no final do século XIX.

Além de explicar o que é superego, falaremos sobre o período da vida do indivíduo em que ele surge e mostraremos qual é o seu papel na personalidade e como ele influencia nosso comportamento. Além disso, explicaremos a importância do superego e os conceitos relacionados de id e ego na psicologia.

O que é superego

O que é o superego? Na psicologia, é uma das três instâncias em que está dividido o aparelho psíquico. Essas três instâncias são id, ego e superego. Vejamos a diferença entre ego, superego e id.

O id (no original alemão, Es, é um pronome da terceira pessoa do singular usado em substituição a palavras de gênero gramaticalmente neutro — algo como “isso”), completamente inconsciente, surge com o indivíduo e representa os instintos e desejos. O ego e o superego, que são parcialmente conscientes e parcialmente inconscientes, surgem mais tarde no processo de desenvolvimento psíquico do ser humano.

O ego (Ich, no original alemão, ou seja, “eu”), baseado no princípio de realidade, tenta conciliar as exigências do irrealista id com as limitações impostas pelas circunstâncias vigentes, controlando os impulsos do id e tentando realizar seus desejos de forma realista. Ele o faz, por exemplo, introduzindo estratégias como o adiamento da gratificação. Por exemplo, reconhecendo que um pedido em um restaurante necessariamente demora um pouco para ser atendido ou pedindo a uma pessoa para usar o que lhe pertence em vez de causar uma confusão tomando à força o objeto logo que surge o desejo de usá-lo. 

O superego (Über-Ich, no original alemão, algo como “super-eu”) representa os valores morais e culturais que o indivíduo introjetou durante sua vida e reprime os instintos primitivos do id. Ele pode ser comparado com um conselheiro do ego, orientando-o quanto à necessidade de obedecer aos padrões morais que foram adotados como seus pelo indivíduo.

Lembremos que, na língua alemã, substantivos e palavras substantivadas são escritas com inicial maiúscula. Por isso, Es, Ich e Über-Ich. As formas de origem latina id, ego e superego foram escolhidas por James Strachey, um psicanalista britânico que traduziu a obra de Freud para o inglês. “Ego” quer dizer “eu” em latim. “Id” é um pronome latino relativo usado em substituição a palavras de gênero neutro.

Embora as pessoas geralmente estejam cientes de seus valores morais, elas nem sempre estão cientes de como a atuação do superego pode afetá-las. Caso uma pessoa se desvie da prática dos valores introjetados, o superego pode puni-la com sentimento de culpa. Essa punição, às vezes, pode acontecer de forma inconsciente, sem que a pessoa entenda a origem do sentimento que a atormenta.

Id, ego e superego

Uma personalidade saudável apresenta um equilíbrio entre id, ego e superego. O domínio de uma dessas instâncias sobre as outras e, em consequência, sobre a personalidade, pode causar problemas ao indivíduo.


O controle do id sobre a personalidade poderia levar a um comportamento imprudente e irresponsável, baseado em impulsos e sem prestar atenção a considerações de longo prazo, regras sociais ou necessidades alheias. Não é difícil perceber que isso poderia causar muitos problemas graves à pessoa com esse desequilíbrio entre os componentes de sua personalidade.

A preponderância exagerada do ego sobre as demais instâncias da personalidade pode levar a uma identificação muito rígida às normas da pessoa com as normas da sociedade, impedir o desenvolvimento de padrões pessoais de julgamento do que é certo ou errado e levar a uma personalidade inflexível, dificultando a adaptação a mudanças.

O controle do superego sobre a personalidade pode levar a um exagero moralista, à submissão da pessoa e de seus interesses a padrões de comportamento pouco realistas e a um julgamento rigoroso das pessoas cujo comportamento não satisfaz esses padrões.

Conflitos entre diferentes instâncias do aparelho psíquico e entre conteúdos conscientes e inconscientes da mente podem causar problemas psíquicos, os quais a psicanálise se propõem a tratar estudando o conteúdo do inconsciente através de técnicas como a análise de sonhos e a livre associação para identificar as fontes desses conflitos. Na livre associação, o paciente fala sem filtros ou censura, o que pode ajudar a trazer à tona sentimentos e ideias que estavam sendo reprimidos.

Podemos aproximadamente ligar id, ego e superego às ideias, respectivamente, de paixão, razão e consciência moral.

Quando se forma o superego

Como informado acima, o superego e o ego formam-se depois do id, o qual é inato ao ser humano, ou seja, nasce com ele. O superego emerge entre os 3 e os 5 anos de idade. A criança vai aprendendo valores morais, incialmente com seus pais e, à medida que cresce, com outras pessoas, como, por exemplo, seus professores. Os valores do indivíduo podem ir mudando à medida que ele é exposto a diferentes situações e diferentes fontes de regras e ideais de comportamento.

Exemplos de superego em ação

Imagine uma pessoa que decide não roubar um produto em um estabelecimento comercial mesmo sabendo que poderia fazê-lo sem ser descoberta. Ou um funcionário que não rouba material de seu local de trabalho apesar de saber que poderia fazer isso sem dificuldades. Ou alguém que decide não cometer adultério apesar do interesse sexual em uma pessoa que não é o cônjuge. Ou o estudante que esquece a resposta de uma questão em uma prova, mas, mesmo tendo a oportunidade de colar, não faz isso.

As pessoas dos exemplos acima estão obedecendo seus conceitos de certo e errado, pelo menos em parte derivados dos valores da sociedade em que vivem. Seus superegos estão fazendo com que rejeitem possibilidades de satisfação de seus impulsos, desejos e instintos que são incompatíveis com seus valores morais.

Conclusão

Como vimos, o superego em Freud é uma instância do aparato psíquico dedicada aos valores morais que o indivíduo introjetou durante sua vida. Ele se opõe aos desejos do id e tenta dispor o indivíduo a viver de acordo com os valores introjetados. Pode puni-lo com sentimento de culpa se ele se afastar desses valores. O indivíduo nem sempre está consciente dessa punição.

Conflitos criados pela interação anormal de diferentes instâncias do aparelho psíquico podem levar a pessoa a apresentar distúrbios. A psicanálise, campo composto pela teoria da mente e pelas técnicas terapêuticas de que Freud foi o pioneiro, procura ajudar o paciente a trazer para o nível consciente esses conflitos de modo a tornar possível sua resolução.  

Apesar das críticas a que, com o passar do tempo, o pensamento de Freud foi submetido, ele permanece bastante influente no campo da psicologia. Isso inclui sua teoria da personalidade, baseada na interação entre id, ego e superego. Diversas escolas de pensamento psicanalítico aplicam as ideias de Freud no diagnóstico e tratamento de problemas psíquicos.