Resiliência

Resiliência é uma das qualidades mais importantes a serem desenvolvidas ao longo da vida. Sim, você leu certo: existem pessoas mais propensas a serem resilientes, enquanto outras terão que desenvolver isso ao longo da vida. Este é o nome da capacidade de não se deixar abater pelos problemas que a vida nos traz.

Quer saber mais sobre o que é ser uma pessoa resiliente? Então, continue lendo!

Definição de resiliência 

Pense na sua própria história de vida. É muito difícil que você já não tenha enfrentado algum problema muito grave: morte de uma pessoa muito querida ou de um animal de estimação, uma mudança indesejada, divórcio dos pais, rejeição amorosa ou término de namoro ou casamento, dificuldades com algum dos filhos, desemprego ou negação de alguma promoção há muito esperada, estes são apenas alguns exemplos.

Será que sua vida acabou após algum evento muito traumático e você desistiu dos seus sonhos? Ou você sofreu a perda, mas depois recomeçou tudo, procurando se adaptar à nova realidade, não importa quantas vezes foi impactado pela vida? Se a sua resposta foi sim para esta segunda questão, você pode ser considerado uma pessoa resiliente.

Resiliência é uma palavra que vem do latim e significa a capacidade de se regenerar. Seu significado na Psicologia e na Administração derivou da Física e da Ecologia, observe:

  • Física: descreve a capacidade de certos corpos de resistirem a uma aplicação intensa de energia, ou de retornarem ao seu estado anterior após isso. 
  • Ecologia: descreve a capacidade de um ecossistema de voltar ao que era após seu equilíbrio ter sofrido alguma perturbação.

 Neste texto, vamos falar somente da resiliência na Psicologia.

Características da resiliência

  • Otimismo: a pessoa resiliente costuma encarar as coisas por uma ótica positiva. Isso não quer dizer que ela negue os problemas nem que não sofra por eles, apenas não se deixa abater, sabe que eles não serão a totalidade da sua vida. Ela acaba sendo mais proativa, porque procura se concentrar no que pode fazer a cada momento, dentro de situações em que muitas vezes não escolheu estar. Sabe que momentos difíceis virão.
  • Flexibilidade, adaptabilidade e aprendizado: costuma adotar conceitos menos rígidos para a sua vida e para os outros. Por exemplo, não cria grandes expectativas, porque já espera que as coisas não saiam sempre como o esperado ou as pessoas não se comportem sempre como ela gostaria. Apesar disso, mantém-se sempre fiel aos seus objetivos. Dessa forma, desenvolve criatividade para conciliar o que deseja com os imprevistos, e assim acumula maior repertório de saídas para situações complicadas, ou seja, torna-se mais adaptável. Consequentemente, toma consciência de que está sempre aprendendo, ao permitir que coisas novas e diferentes entrem na sua vida como são.
  • Serenidade: por tudo isso, sabe manter a calma diante de momentos em que outras pessoas costumam perder a cabeça. Assim, ela consegue raciocinar friamente para encontrar uma solução e amparar os mais vulneráveis.
  • Autoconfiança: essa pessoa aprendeu a confiar em si mesma, porque viu que, após um evento traumático, a vida continua. Ela recomeça sempre que necessário. Uma das maiores provas disso é que ela não se abala (ou raramente) com críticas, por mais duras que sejam. Isso também acontece porque ela se conhece profundamente, então não tem medo de assumir suas qualidades e defeitos, seus erros e acertos. Orgulha-se de forma saudável do que deve se orgulhar.
  • Inteligência emocional: isso não quer dizer que deixe completamente de sentir emoções como mágoa, tristeza ou raiva, mas, sim, que é capaz de tomar consciência de como se sente sem se deixar levar por isso, ou seja, não age impulsivamente, espera voltar à racionalidade para pensar no que fazer. Isto é sabe administrar as emoções, sem reprimi-las, mas também sem ser escravo delas. 
  • Empatia: elas conseguem se conectar facilmente com o que os outros sentem, ainda que estejam numa situação privilegiada em relação a essas pessoas. Porque têm consciência de que já sentiram o mesmo que elas, em algum contexto.

O que começar a fazer para ter mais resiliência na vida

  • Senso de propósito: descubra qual é o propósito da sua vida, ou seja, o que é essencial para você. A partir disso, defina suas prioridades, porque suas escolhas partirão daí. Você passa a ser responsável por suas escolhas, pois faz escolhas mais honestas para si, sem preocupação com o que os outros podem pensar. Comece focando nos seus pontos fortes e no que gosta de fazer.
  • Invista em autoconhecimento: para descobrir seu senso de propósito, você deve desenvolver ao máximo sua autorreflexão: o que gosta e o que não gosta em você? Do que se orgulha na sua história, e do que se envergonha? Quais seus pontos fortes e fracos? Estas perguntas podem ser duras, mas são essenciais para você se conhecer e criar autoconfiança, acredite! Se achar necessário, busque a ajuda de um psicólogo.
  • Abandone expectativas irrealistas: conhecer-se profundamente mostra que você não corresponde a nenhum modelo de perfeição, e assim você vai abrindo a mente para acolher a imprevisibilidade e a imperfeição de outras pessoas, ou imprevistos nas situações. Isso melhora sua flexibilidade.
  • Melhore sua inteligência emocional e habilidades sociais: para se comunicar cada vez melhor, e assim aumentar a qualidade dos seus relacionamentos.
  • Crie uma rede de apoio: você passa a ser mais independente, mas isso não quer dizer nunca mais contar com ninguém! Mantenha sempre por perto aqueles seus familiares e amigos que te apoiam incondicionalmente, e ajude-os também, sempre que for necessário. Assim, todos se fortalecem mutuamente, ao dividir entre si os desafios da vida.

Exemplos de resiliência

O tema do viúvo apaixonado pela esposa falecida é um dos favoritos de Hollywood. Neste tipo de história, ele deixou de viver a própria vida há vários anos, preso àquele momento – fica a sensação de que algo como a morte, que é tão comum, não devia nunca ter acontecido na vida  daquela pessoa emocionalmente mais frágil, e ela acaba sendo resgatada quando se permite entregar-se novamente ao amor.

Apesar de isso ter gerado histórias emocionantes, esses filmes não costumam representar bem o luto complicado, e muito menos como a pessoa realmente cria resiliência. Afinal, muitos exemplos de resiliência reconhecidos hoje passaram por trajetórias muito pessoais para desenvolvê-la, observe: 

  • Viktor Frankl (1905 – 1977): este psiquiatra austríaco passou três anos em quatro campos de concentração nazistas diferentes. Logo que foi libertado, descobriu que sua esposa, seu irmão e sua mãe morreram na câmara de gás. No entanto, como já fazia nos campos de concentração, continuou concentrando-se no seu trabalho de psiquiatra, e assim criou um ramo dessa ciência: a Logoterapia, que busca desenvolver no paciente a importância de descobrir o sentido da sua vida, e lutar por isso. Contou sua história no livro “Em busca de sentido”, que começou a escrever nos campos de concentração.
  • Carolina Maria de Jesus (1914? – 1977): menina negra brasileira do começo do século XX que só estudou até o segundo ano do primário, quando cresceu quis virar escritora. Trabalhou como doméstica em São Paulo numa casa de onde teve acesso à biblioteca. Depois virou catadora de lixo por opção, começou a escrever em cadernos que encontrava, mostrou-os a um jornalista e teve seu diário, “Quarto de Despejo”, publicado. Mesmo que sua história não tenha sido tão feliz, pois por vários preconceitos de intelectuais da época não foi publicada como gostaria e não foi aceita como escritora com voz própria, cabe citá-la aqui, porque sua ousadia em viver seu sonho hoje serve de inspiração para muitos outros escritores negros ou da periferia do Brasil. Recentemente, seus livros passaram a ser publicados como eram originalmente por uma grande editora nacional.