Este texto tem por seu objetivo falar sobre a resiliência humana, explicando o que ela é e sua importância, bem como tratar de como ela pode ser desenvolvida.
A resiliência humana na psicologia
Talvez seja útil que comecemos nossa abordagem do tema resiliência humana tratando do interesse da psicologia por esse fenômeno e das origens do nome “resiliência”.
Segundo a revisão da literatura psicológica feita por Juliana Mendanha Brandão, Miguel Mahfoud e Ingrid Faria Gianordoli-Nascimento, entre o final da década de 1970 e o início da década de 1980, pesquisadores americanos e ingleses interessaram-se pelo fenômeno de pessoas que conseguiam manter a saúde psicológica apesar de submetidas a grandes adversidades e experiências altamente estressantes.
A psicóloga americana Emmy Werner, que estudou crianças em Kauaʻi (ou Kauai), uma ilha pertencente ao estado americano do Havaí, nos anos 1970, esteve entre os pesquisadores pioneiros no uso do termo resiliência para definir as pessoas que conseguiam resistir psicologicamente à ação de influências estressantes e tomar boas decisões, evitando que os problemas levassem-nas a tomar decisões autodestrutivas.
Ainda segundo os citados autores, com o passar do tempo, o estudo desse fenômeno psicológico dividiu-se em três correntes principais, uma anglo-saxônica, uma europeia e uma latino-americana, havendo diferenças de enfoque e em definições entre os trabalhos dessas correntes de pesquisa.
Adotado em substituição ao termo invulnerabilidade, que foi usado inicialmente pelos primeiros pesquisadores a se interessarem pelo assunto, o termo resiliência foi tomado emprestado pela psicologia das ciências físicas, nas quais ele é usado no estudo da resistência dos materiais. A resiliência, neste contexto específico, é a capacidade que permite a um material que se encontra deformado pela ação de uma força retomar sua forma original depois de ter cessado sobre ela a atuação dessa força em vez de ficar permanentemente deformado.
É comum que a flor de lótus seja tida como um símbolo da resiliência humana. Ela é considerada um símbolo dessa habilidade porque apresenta sua beleza e seu viço apesar de ter nascido no lodo. De certa forma, dele, ela tira forças para sustentar-se e desenvolver-se. Como as pessoas resilientes extraem aprendizado das experiências negativas.
O que é uma pessoa resiliente: exemplos de resiliência humana
Há ligeiras diferenças entre as definições de pessoa resiliente usadas por diferentes pesquisadores, correntes de pesquisa ou escolas de pensamento, mas pode-se dizer que uma pessoa resiliente é aquela capaz de lidar de maneira positiva com o stress e com a adversidade, de forma a manter a calma em situações caóticas ou difíceis de se buscar soluções.
Como um dos exemplos de resiliência humana mais conhecidos, podemos citar o estadista sul-africano Nelson Mandela, que depois de quase trinta anos de confinamento por sua luta contra o regime do Apartheid, deixou a prisão para liderar, sem desejos de vingança, a transição de seu país em direção a uma democracia multirracial, da qual ele foi eleito o primeiro presidente negro.
Outro exemplo conhecido de resiliência é o do psicológo austríaco Viktor Frankl, que relatou suas expeiências em um campo de concentração nazista e tentou entender a busca do ser humano por um sentido em sua vida.
A perda de um ente querido ou revezes na carreira são exemplos de situações que podem surgir em nossas vidas e que exigem resiliência para que possam ser enfrentadas da melhor maneira possível.
Resiliência humana x otimismo
O otimismo e a disposição para acreditar que as coisas podem melhorar são componentes comuns na personalidade dos indivíduos resilientes. Outros dos componentes são a autoconfiança, a flexibilidade e a persistência em face das dificuldades.
Outros traços que costumam estar associados à resiliência são a capacidade de elaborar planos realistas e a determinação para segui-los, apesar das dificuldades, enquanto eles parecerem adequados às finalidades da pessoa e a capacidade de se comunicar de forma clara e proveitosa com os outros.
Como utilizar a resiliência
Uma pessoa resiliente aprende com as experiências adversas, enxerga oportunidades de mudança e lida de forma positiva com situações estressantes. Se uma solução é possível, ela a procura. Se a causa objetiva do problema não pode ser solucionada (por exemplo, no caso de ter morrido um ente querido), ela entende que o sofrimento é algo natural, mas que ela pode — e deve — seguir em frente.
Dicas para ser uma pessoa mais resiliente
Atividades como a oração e a meditação tendem a favorecer o aumento da resiliência humana. A prática de exercícios físicos também é indicada, pois ela libera serotonina e endorfina, substâncias que estão ligadas à felicidade e ao bem-estar, o que ajuda a fortalecer a capacidade de suportar adversidades e lidar de forma construtiva com elas. O cultivo de uma disposição à gratidão também tende a fortalecer a resiliência.
O senso de propósito criado pelo entendimento de qual é o propósito de sua existência predispõe à resiliência humana, como apontou o já citado Viktor Frankl, o qual escreveu que quem sabe os porquês pode suportar os comos, por piores que eles sejam. Além disso, é importante entender que, mesmo que outras pessoas subestimem ou façam pouco de suas dificuldades, isso não faz delas algo menos importante ou de seus esforços para superá-las algo menos válido.
Pense em suas qualidades positivas (bom humor, inteligência etc.) e faça uso delas para lidar com os revezes. Como mencionado acima, cultivar o otimismo e um senso de gratidão pelas bençãos e oportunidades de que se tem desfrutado ajuda a fortalecer a resiliência.
É importante entender a diferença entre ser independente, que é louvável e desejável, e isolar-se. É normal buscar ajuda, seja a de um amigo, de um familiar ou a de um profissional de saúde, como, por exemplo, um psicólogo.
De vez em quando, pode ser útil fazer uma pausa e se dedicar a seus hobbies preferidos, como leitura, jogar videogames ou tocar instrumentos musicais. É um jeito de descansar um pouco a mente e deixar que o inconsciente possa trabalhar em paz um pouco e fazer sua análise da situação, talvez permitindo que soluções acabem por emergir mais tarde mais facilmente. A prática de atividades prazerosas também ajuda a lidar com o stress causado pela situação adversa sendo enfrentada, ajudando a preservar a saúde psicológica.
Conclusão
Como vimos, a resiliência é a habilidade estudada pela psicologia que permite manter o equilíbrio e reagir de formas produtivas diante da adversidade e do stress e manter a saúde psicológica apesar das dificuldades que possam surgir. Trata-se de uma habilidade, da qual o otimismo é um dos componentes comuns, especialmente útil em tempos de crises, reviravoltas ou quando estão sendo enfrentadas dificuldades pessoais, como a morte de entes queridos, problemas de saúde ou revezes na vida profissional.
Embora algumas pessoas pareçam ter nascido dotadas de resiliência, trata-se de uma habilidade que pode ser cultivada e desenvolvida de forma deliberada pelas pessoas interessadas em seus benefícios.
