Fetiche

Fetiche é um assunto que desperta muita curiosidade, seja pelo inusitado de alguns desejos, seja por quem deseja descobrir mais possibilidades para a própria sexualidade. Também ainda é comum a associação do fetichismo com doença mental, apesar de hoje a ciência não mais classificá-la assim.

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O que é fetiche?

“Fetiche” é uma palavra de origem francesa, a partir da portuguesa “feitiço”, ambas registradas desde o século XV. Esta última significava objetos investidos de poderes espirituais, figuras sagradas. “Fetiche” foi usada muito antes do surgimento da Psicanálise, com o sentido de retomar ou reverter, referindo-se, no geral, a coisas desprezíveis. No século XIX, ela foi usada pela Sexologia para o que era considerado aberração sexual.

No século XX, quando os estudos sobre fetiche ganharam mais fôlego, a palavra passou a descrever certos comportamentos sexuais. Freud inventou o termo “fetichismo” no seu livro “Três ensaios para uma teoria sexual”, em 1905, no qual se debruçou especificamente sobre o tema.

Fetiche na Psicanálise

O fetiche, segundo Freud, pode aparecer no menino a partir do momento em que descobre que sua mãe não tem um pênis, como ele. Isso é um choque para ele, que até então entendia que todas as pessoas possuíam pênis. Com medo de também ser castrado, como imagina que aconteceu com a mãe, até então o inequívoco objeto do seu desejo, esse menino pode deslocar seu desejo para algum objeto, tentando suprimir, na sua mente, a recém-descoberta ausência do pênis (que gera angústia).

Este objeto costuma ser a primeira coisa para a qual ele olha depois que descobre que a mãe não tem pênis, por isso que é comum que esse fetiche sejam roupas íntimas femininas (calcinha, sutiã), cabelos (relacionados aos pelos pubianos), tecidos usados em roupas de cama, etc. Para Freud, esse menino não tem como voltar atrás no conhecimento dessa realidade, mas, ao mesmo tempo a nega, o que ele chama de perversão, que é uma tentativa de não recalcar algum impulso primitivo do id. Seria uma forma de tentar não completar o complexo de Édipo, não reconhecendo totalmente a lei do pai.

Ao mesmo tempo em que se dá a entender que isso é problemático, pelo menos à primeira vista (na época em que Freud viveu, a medicina acreditava que práticas sexuais sem fins reprodutivos eram sintomas de transtornos mentais), a psicanálise reconhece que, em todo amor normal, existe um pouco de fetichismo – quem nunca ouviu falar de namorados que guardam mechas de cabelo da amada ou fotos dela na carteira? Além disso também cumpre observar que a teoria de Freud praticamente só fala de como os homens desenvolvem o fetichismo, não as mulheres – de fato, isso é mais comum, ou pelo menos mais reconhecido, neles do que nelas. Mas elas também têm os seus.

Alguns tipos de fetiche:

  • Peças do vestuário (lingeries, sapatos);
  • Partes do corpo da pessoa;
  • Tipos de tecido;
  • Cores;
  • Fantasias (uniformes de profissões, por exemplo);
  • Cenários diferentes para o ato (banheiro);
  • Cheiros.

Fetiche na Psicologia

Hoje, a Psicologia reconhece que todas as pessoas têm fetiches, em maior ou menor grau, e, se encarados com moderação, podem contribuir para a descoberta de outras possibilidades para a vida sexual de uma pessoa ou casal. Para isso, primeiro é importante saber a diferença entre fantasia sexual, fetiche e parafilia:


  • Fantasia: é o ato de dar asas à imaginação, inventando histórias de relações sexuais com pessoas ou situações que provoquem a sensação de prazer. Isso pode acontecer em qualquer momento, até durante o sexo com seu parceiro, por exemplo fantasiando a transa com um ator famoso, ou transar dentro de um carro, em vez do quarto onde estão. É inofensiva e ótima para causar excitação, ou seja, se essas situações nunca acontecerem, isso não afetará em nada a vida sexual da pessoa.
  • Fetiche: diferencia-se da fantasia por ser concentrado num objeto, como os mencionados acima. Se o sexo ocorrer com a presença do fetiche, será mais excitante; contudo, se ele não estiver presente, a pessoa também poderá sentir prazer – este é o limite do saudável.
  • Parafilia: é um exagero na fixação por algum fetiche, ou seja, a pessoa só consegue sentir prazer na presença desse seu objeto de adoração. A tendência é que a pessoa não sinta mais prazer no ato sexual, e sim apenas no objeto ou situação, ou tenda a objetificar seu parceiro – não à toa, algumas parafilias são consideradas crimes, como a necrofilia, a pedofilia e a zoofilia. Elas podem ocasionar prejuízos e sofrimentos para o parafílico e outras pessoas.

Como tratar um fetiche/parafilia 

Durante muito tempo, o próprio fetichismo foi considerado uma parafilia pela ciência, daí a confusão ainda muito comum entre estes dois conceitos – facilitada pelo fato de que a parafilia ainda não tem uma definição definitiva. Hoje, a Psicologia concorda que um fetiche, por mais estranho que possa parecer à maioria das pessoas (já falaremos a respeito de alguns), não pode ser considerado doença se:

  • todas as pessoas envolvidas forem adultas, estiverem bem informadas sobre e concordarem em fazer ou participar de algo;
  • o fetichista obtiver prazer de outras formas, na vida sexual e fora dela;
  • não ocupar a maior parte do seu tempo com seu fetiche (por exemplo, perder horas de trabalho para ir atrás dele);
  • não forçar ninguém a nada;
  • se preocupar também com o prazer do parceiro;
  • saber o limite ético (consigo mesmo e com os outros) entre o que pode ser realizado e o que deve ficar só na fantasia.

Caso algum desses itens não esteja sendo respeitado, é quando um fetiche prejudica a saúde. Portanto, é importante o fetichista buscar ajuda com um sexólogo, que é o mais indicado, mas também pode ser com psicólogo ou psiquiatra.

O profissional vai investigar, junto com o paciente, de onde vem o fetiche, o que quer dizer que experiências da infância ou adolescência serão revisitadas para tentar explicar a eleição daquele objeto específico como objeto de desejo (uma brincadeira, carinho ou cheiro que causou excitação, por exemplo). Em seguida, vão buscar juntos alternativas para ele voltar a sentir prazer de outras formas, e ele pode ou não precisar tomar remédios.

É importante ressaltar que o desejo não é extinto com o tratamento, é a pessoa que aprende a controlá-lo, em vez de ser controlada por ele.

Alguns fetiches sexuais

  • BDSM: a partir de um jogo entre quem domina e quem é dominado, os seguintes comportamentos se tornam possíveis, em diferentes graus e combinações:  bondage (amarrar alguém ou ser amarrado), disciplina, dominação, submissão, sadismo e masoquismo. Pode envolver de apenas humilhações verbais e ordens a serem obedecidas a até infligir dor física a alguém. O objetivo é experimentar os prazeres biopsicológicos do dominador ou do submisso.
  • Podolatria: fixação por pés. A pessoa pode querer contemplá-los ou sentir o cheiro, durante o sexo ou não. Um fetiche que costuma ser muito ligado a esta é a altocalcifilia, por sapatos de salto alto – a pessoa pode querer que seu parceiro transe de saltos, ou que pise em si com eles.
  • Travestismo: desejo de se vestir com as roupas do sexo oposto.
  • Cisvetismo: desejo em vestir especificamente uniformes, como de bombeiro ou enfermeira.
  • Voyeurismo: prazer em observar outras pessoas nuas ou fazendo sexo.
  • Exibicionismo: prazer que pode envolver desde mostrar-se nu ou fazendo sexo para outras pessoas, até exibir os genitais em público sem consentimento.
  • Urofilia e coprofilia: é integrar ao ato sexual, respectivamente, a urina e as fezes, próprias ou do parceiro.